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Estou aqui no meu quartinho.Nossa, como eu amo esse quarto.Ah se essas paredes falassem, parece que são as únicas que me acompanharam durante tanto tempo, sabem tudo de mim.Sabem as curvas do meu corpo, sabem as lágrimas que eu já demarramei.Sabem as gargalhadas que eu já dei.Leram todos os textos que eu escrevi.Ouviram sussuros.Ouviram gemidos.Me viram dançar sozinha.Presenciaram muitos momentos.Mas a questão é que estou aqui e preciso fazer a minha mala, e arrumar a minha bagunça aqui dentro.Mas não consigo párar de escrever.A mente está a mil, os dedos teclam mil botões em uma fração de segundos, mesmo gelados, não cansam.Estou com saudade da minha mãe.To precisando sentir o cheiro dela.Leio os e-mails do Felipe.Olho o Orkut.Não entro no msn, se eu entrar, aí que eu saio mais.Tanta coisa pra arrumar aqui, mas a vontade mesmo é deitar nessa minha cama, na minha cama, na cama que tem o meu cheiro, na minha cama cheia de travesseiros, na cama com edredon verde claro que combina com as cortinas, com os quadros, com as fadas que voam no meu teto, que reluz no meu espelho que é tão grande, ah se esse espelho falasse… Tantas conversas que tivemos eu e ele, que rimos e choramos.Mas a cama, dá vontade de deitar nela e ficar ali naquele quentinho do sol que bate pensando na vida.Não dá vontade de ir mais embora.Cada canto tem um toque que é só meu.E aí a gente se enche de perguntas, sobre casar, noivar, sair de casa, sair do conforto que é estar sempre com a nossa família.Eu sempre fui bem independente, sempre… Isso nunca me deu medo.O medo é chegar em casa e não ter gente em casa, é não ter o sorriso e o abraço da minha mãe todos os dias, quantas vezes nós conversamos horas e horas nesse quarto.A minha mãe nunca me bateu, a minha mãe sempre foi a melhor mãe do mundo e a minha melhor amiga, a gente sempre se entendeu no olhar, foi ela quem me ensinou tudo sobre a vida, sobre sexo, sobre amizades, sobre o tipo de pessoa que eu quero ser.Eu e ela lutamos juntas contra a hepatite C, é eu nunca falei que era ela, porque isso me dói.Mas a gente tá vencendo essa batalha.Daí eu penso, sair de casa, quase como romper um cordão umbilical.Crescer dói.Casar dói.Amar dói mais ainda.Ser a pessoa que abre os braços e segura todo mundo na correnteza também dói as vezes, ser aquela que é a mais forte sempre, que vence sempre.Sabe que quando eu era criança,uma médica espirita disse pra minha mãe que eu ia ser o tipo de pessoa que faz de tudo até conseguir o que quer, que luta até o fim.É, ela adivinhou mesmo.Engraçado que tudo o que eu quero, eu tenho.Desde sempre foi assim, isso assusta algumas pessoas, mas deve ser de família.Eu sou italiana,de mãe italiana pura, de vó italiana… tá na minha cara sardenta, não dá pra enganar , italiano é tutti buona gente! E aqui sempre tem festa e gente alegre em casa.E aqui todo mundo sempre consegue o que quer.E sabe que eu e a minha mãe temos uma história bem parecida de amor.
Mas tá na hora de eu fazer a minha mala!

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