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” Faz de conta que a vida dela não era de faz de conta” Clarice Lispector em Faz de conta

Tantas pessoas vivem em um mundo de “faz de conta”, faz de conta que eu tenho namorado, faz de conta que eu to bem sozinha, faz de conta que dou conta do recado, faz de conta que eu te amo, faz de conta que te odeio… Faz de conta e faz de conta.
Quanta besteira, vocês não acham?!
Que ser humano não sofre? Que ser humano não aprende errando. Quem de nós não chora, não ama, não mente, não quer sumir de vez enquanto? A questão é, que esse mundo de faz de conta que muitas pessoas criam, é simplesmente pra não olharem o que não possuem, isso traz um certo conforto.
A internet está aí pra isso, as pessoas esbanjam coisas que não são, que não tem, que não possuem, as vezes pra mostrar pra pessoas que invejam aquilo que elas gostariam de ser. É isso que eu penso..Viver nesse mundo de faz de conta, é como viver no mundo irreal.Não existe pessoa perfeita, não existe quem não sofra, quem é feliz 24 horas por dia..E se existe, então meu bem, me ensine essa fórmula eterna de felicidade, que eu, até as briguinhas bobas adoro, aquelas que metem medo na gente e depois fazem a gente perceber tudo aquilo que podemos perder.
Faz de conta é uma cortina da vida real, olhe pra fora.. Viva, escreva sua história.. Não faça de conta que tá tudo bem. Muitas vezes não está… Não faça de conta ser quem você não é.. A vida não é de faz de conta.. Mas faz de conta que você não leu tudo isso!

Adoro esse texto da Martha Medeiros:
Faz de conta:

Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio: FAZ DE CONTA QUE EU TE ODEIO
Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: FAZ DE CONTA QUE EU TE AMO.
Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: FAZ DE CONTA QUE EU DOU CONTA DO RECADO.
Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO QUERO.
Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto:FAZ DE CONTA QUE EU ME IMPORTO.
Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO SOFRO.
Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: FAZ DE CONTA QUE EU ENTENDO.
Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: FAZ DE CONTA QUE EU COZINHO.
Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy:FAZ DE CONTA QUE NÃO DÓI. Martha Medeiros

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