Escolha uma Página


A gente olha pra uma pessoa e vai “processando” as informações: forma física, o modo como está vestida, a qualidade do sorriso, a intensidade do olhar, o tom de voz, a movimentação do corpo.
Junta esses dados com as informações prévias que possui sobre esse alguém, vindos através de outros conhecidos. E faz aquela análise básica, agregando certos dados valorizados pela nossa sociedade como: estado civil, profissão, lugar onde mora e outros indicadores de status do cidadão.
Coloca tudo isso na coqueteleira cerebral, sacode bastante, acrescenta uma pitadinha da sua subjetividade misturada com seus próprios valores e visão de mundo e…..voilá: está pronta a opinião imediata que você forma a respeito de alguém!
Assim, “a seco”. Sem saber nada sobre a história de vida daquela pessoa, contada na versão dela mesma. Sem saber de seu histórico médico. Sem saber “quantos quilos de sal” ela já comeu sozinha. Sem fazer ideia do contexto familiar de onde ela veio. Sem poder avaliar as rasteiras que já tomou na vida. Ou as escolhas dolorosas que teve de realizar.
Porque das minhas conversas com meu travesseiro só eu sei. Das minhas olheiras camufladas pela maquiagem, apenas eu dou conta. Dos meus acertos e tropeços – e como eu lidei com eles de verdade – só eu entendo. E apenas eu tenho noção dos sentimentos e das necessidades que me movem a cada vez que faço uma escolha.
Porque ninguém está dentro de mim, viveu o que eu vivi nem sabe inteiramente do meu contexto, pra obter o nível de autoridade necessário a fim de exercer um julgamento que apenas eu tenho habilidade para realizar.
Os julgamentos de uns sobre outros são falhos – porque geralmente são superficiais, carentes de dados corretos e frágeis para analisar de forma competente a fundação das estruturas de cada um de nós.
E não é porque você lê meus textos ou convive comigo numa rede social que vai me entender. Não é porque viu meia dúzia de fotos minhas que vai saber quem eu sou. Muito menos porque ouviu a opinião de outras pessoas sobre minha vida. Dificilmente serei real pra você: sou apenas um amontoado de “disse-me-disse”, das suas próprias projeções sobre mim e da sua visão de mundo atuando na moldagem do espectro de mim que você criou.
Convivência diz mais. Troca diz muito. Ouvir eu falar de mim mesma, olhando-me nos olhos, mais ainda.
Porém, ainda assim, você filtra quem eu sou e mistura um pouco de quem você é. E se eu mesma não me conheço completamente, não seria um pouco arrogante a sua postura de achar que me conhece e se atrever a analisar e julgar as minhas escolhas usando apenas algumas migalhas que a vida te deu a meu respeito?
Posso apostar que você é bem mais condescendente consigo mesmo quando julga a imagem que vê todos os dias no espelho da sua casa… Seria legal ser um pouco assim com as pessoas ao seu redor também. Devaneios e metamorfoses.

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